- Aos Meus Pais –

Com isso saquei
que paternidade é uma relação que extrapola o núcleo básico familiar. Além do
pai biológico, em nossa história recebemos influência de tantas outras pessoas
que acabam assumindo, em um ou outro aspecto, a importância de um pai em nosso
desenvolvimento. A própria Bíblia prevê uma relativização dos vínculos
familiares quando faz afirmações do tipo “há amigos mais chegados que irmãos”,
ou quando registra palavras em que Jesus afirma que sua família, pai, mãe e
irmãos, são aqueles que fazem a vontade de Seu Pai, colocando-se assim como
irmão dos homens. Ou quando o apóstolo Paulo chama seus seguidores de “filhos
na fé”. Há proteção e apoio, instrução e prestação de contas, que espontaneamente
se tornam ingredientes para a caracterização de uma relação entre pai e filho.
(Quero sugerir apenas um texto para leitura da semana – Lucas 15.11-31)
Confesso minha falta de compreensão diante
de amigas que admiram tanto os pais que nem percebem a projeção de seus
namorados, maridos neles... isso me irritava muito!
Logo, segue meu
rascunho de como experimentei e pretendo a paternidade:
1. Pai ensina valores e não comportamentos –
Quando o pai da história permite que o filho se vá, entende que os valores
plantados em seu coração serão capazes, e somente eles, de trazerem o filho de
volta.
2. Pai deixa o filho amadurecer –
Deixar o filho ir requer confiança de que os valores foram plantados. Todo
filho precisa ir para amadurecer, decidir por si próprio e assumir seus riscos.
Amadurecer é vencer as etapas iniciais da vida, a infância e a adolescência.
Ambas se alimentam de mitos e são transição.
Na infância é o
mito do pai-herói, quando o filho vê no pai a perfeição. Também o mundo que o
rodeia, e que recebe interferência direta do pai, é perfeito. Mas como isso não
é verdade, ou seja, como nem o mundo e nem o pai são perfeitos, quando o filho
se depara com a imperfeição, ele é envolvido pelo mito da adolescência, o mito
do anti-herói, da imperfeição plena, do caos. Nada é bom, tudo precisa ser
mudado, há um desejo incontrolável de ser o oposto e de construir um mundo
oposto ao que existe, na intenção de voltar a experimentar o mito da perfeição.
O pai deixa de
ser o referencial e muitas vezes passa a ser oposição. Naturalmente que a
transição da adolescência, quando nada serve, é a idade adulta, que é a
adequação do ser à realidade e ao ambiente, é quando acabam os mitos e quando
há aceitação da realidade.
Deixar o filho
amadurecer é ajudá-lo a transpor estas fases mitológicas. Quando criança o
filho precisa saber que o pai não é perfeito pelo próprio pai, para que quando
ele se der conta de suas imperfeições, se lembre também de que o pai já havia
avisado e que portanto, mesmo não sendo perfeito, ainda é digno de confiança.
Tais atitudes prevêm que quando o filho transpuser suas fases, e mesmo que
nesse processo ele se distancie, ele volta pra casa.
Como sei disso?
Como tios preencheram esta lacuna – eles tinha liberdade de se mostrarem
imperfeitos...
No texto
proposto - quando o filho mais velho chega em casa e confronta o pai sobre a
vida irresponsável que o filho mais novo viveu, ele demonstra saber o que o seu
irmão fez enquanto estava longe. Concluiu-se que somente sabiam o que o mais
novo fez, porque o pai se manteve informado de todos os passos do filho que se
foi. Ele o acompanhou.
Ao mesmo tempo,
acompanhar o filho não quer dizer pagar as contas de suas decisões, o filho
precisa assumir seus próprios erros, precisa experimentar as consequências de
suas escolhas, mesmo que saiba que quando precisar, pode voltar pra casa do
pai.
3. Pai celebra a maturidade do filho –
quando o filho vive cada fase adequadamente e se torna maduro, encontra no pai
um amigo do outro lado da vida. O pai que agora é amigo, marca o relacionamento
com celebração da vitória. Há pais que aguardam que os filhos errem para
poderem dizer que tinham razão quando diziam que os filhos “não iriam dar em
nada”, que erraram ao escolherem por si só e não seguiram os conselhos deles.
Pai não aponta os erros do passado como argumento de sua razão, mas celebra a
vitória, apesar dos erros dos filhos. Pai se alegra em ver no filho um
companheiro, que porque amadureceu, pode agora dividir experiência, aconselhar
também, formar uma amizade adulta.
Por isso hoje
caminho passos destes que sem saber ou não me inspiraram e inspiram!
O pai da
história celebra uma festa com o filho como se fosse seu amigo, o filho mais
velho reclama não ter feito festa com seus amigos, festas como esta, que o pai
agora celebra com o seu filho mais novo, como um amigo que ele acompanhou
amadurecer, que sofreu com os erros e esperou, com fé e paciência, que voltasse
pra casa.
4. Pai sabe que o melhor que tem pra
oferecer é a si mesmo – Uma das maiores pressões que os pais modernos
sofrem é a da provisão de sua casa e a da satisfação dos desejos dos filhos.
Tantos os pais, quanto os filhos, são atacados pela sociedade de consumo que
determina que a felicidade se alcança com bens de consumo ou com sensações
prazerosas. Mas o pai é aquele tem consciência de que o bem maior que pode
oferecer aos filhos não é comprado com seu dinheiro, mas transmitido pelo seu
envolvimento. Melhor do que trabalhar para a família é trabalhar para poder
viver com a família. Melhor do que dar de tudo aos filhos, é dar de si aos
filhos. Melhor do que a tecnologia é a presença.
Minha sorte –
tio Jairo inspirou a profissão e reconhecer a felicidade – tio Daniel a
inquietação – tio Dirceu determinação e primeiros acordes – tio Elias gratidão!
O irmão mais
velho reclama do pai que esteve com ele sempre e que não festejou com os
amigos, demonstrando que seus valores são errados. O pai, consciente de que o
melhor que tem é o que ele é, responde que o filho mais velho esteve sempre com
ele.
Pai é presente, vê o crescimento dos filhos, se envolve,
planeja investir mais tempo e presença nas fases dos mitos a fim de que na fase
madura mantenha uma relação de amizade. (Aqui vai a observação ao brother
Henrique André – Pai do GRANDE MARCELO HENRIQUE também já pai).
Qualquer um é
pai, em qualquer relacionamento que se caracterize como um ambiente de
proteção, apoio e desenvolvimento. Neste sentido – vou colocar presbítero Clóvis,
Reverendo Jairo Augusto, Reinaldo João, Marcos Arruda – Rafael Rodrigues –
Antonio João Fernandes – Velho Manuel!
E óbvio – Sr. EPITÁCIO!!!