3.5.13
2.5.13
Antes de domingo
Uma das mais enriquecedoras
tardes havia sido a que conversaram sobre o tempo. Enquanto ele balançava
lentamente na cadeira, enrolava na mão a bengala encenando o quanto suas
palavras carregavam ritmo e tinham a capacidade de embalar os pensamentos de
todos.
Falava com autoridade de quem já
tinha vivido muito tempo e, mais que isso, tinha vivido muito em cada tempo.
Seus olhos transmitiam a densidade de quem não aceitou vir à passeio, mas
decidiu protagonizar cada momento.
Dizia que o tempo é implacável,
não perdoa e cumpre tudo o que promete. É a realidade mais leal à vida, não se
perde, não atrasa, não falha.
Roçando a barba farta e
esbranquiçada, fechava os olhos como quem buscava a melhor maneira de explicar
seu ponto de vista. Satisfeito com a ideia, se debruçou no apoio sempre
presente, inclinou pra frente o corpo, esperando a atenção redobrada de todos,
dizendo:
- O tempo é grande amigo, sim
grande amigo.
Desfez de uma vez o olhar ansioso
de quem imaginava que um velho só poderia dizer que o tempo é ardiloso.
- Todas as sementes que plantei,
ele esperou brotar, como uma testemunha de minha existência. É um amigo atento
e companheiro.
Riu de si mesmo. Lembrou de muita
coisa. Viu a impaciência da infância, a urgência da juventude, o desnorteamento
da primeira idade adulta, as pazes feitas com o amigo na velhice. Paciência é a
celebração das pazes com o amigo tempo.
- Acontece que eu nem sempre
plantei as melhores sementes, que precisaram ser arrancadas depois. Algumas
vezes o trauma da terra foi tão grande que espaços do terreno precisaram ser
desprezados no próximo plantio.
Lembrou-se também com ternura do
quanto o tempo o ajudou a perdoar. Uma decisão é como uma semente que o tempo
faz crescer.
Ninguém deve esperar o tempo
passar para resolver alguma coisa que pensa não poder dar conta de resolver.
Ele, por si só nada pode realizar, ele é apenas o amigo, grande companheiro,
que testemunha e legitima cada uma de nossas escolhas.
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