10.3.07

Diaconia Crônica

O Ministério de Ação e Serviço Social é certamente muito sério e motivo de orgulho da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
Entendemos a santidade de Deus e buscamos constantemente atender o ide de nosso Senhor Jesus Cristo.
Mais alguns fatos são marcantes para nossa caminhada de fé e de forma bem humorada pretendo expressar as angústias, as aflições e as incertas que passa um diácono.
Desde filhos inquietos nos templos, bêbados barulhentos, entupimento no banheiro em dia de culto do presbitério até expulsões de demônios teimosos e cachorros mais crentes que o dono.
Como da vez que o diácono André (IPI Veloso) resolveu desenvolver um ministério de arrecadação de alimentos em parceria com o banco de alimentos do CEASA.
A principio a idéia era magnífica, muitos alimentos são desperdiçados e vão para o lixo deste entreposto.
Irmão visionário, dinâmico e jovem, recém eleito diácono pela c
omunidade percebeu nos catadores do CEASA uma oportunidade de abençoar a comunidade carente de nosso bairro.
Nenhum problema até aqui, oportunidade e visão é que precisam nossos diáconos, a questão de repente é a falta de experiência.
Nnos apresentamos como diáconos de uma Instituição séria com mais ou menos 150 famílias para atender. Fizemos um burocrático cadastro junto à instituição e lá fomos para nossa primeira retirada.
Queríamos fazer uma surpresa à igreja entregando os alimentos PERECÍVEIS de casa em casa, aproveitando para uma visita.
Como meu irmão era microempresário e eu profissional liberal não tínhamos problemas com horário, tiramos nossa quarta - feira e lá fomos...

Tantos quilos de tomate, outros tantos de mamão, mais alguns de mandioquinha, e outros tantos como melancia e outras frutas e legumes que não saberia decifrar agora.
O alimento já era do dia anterior e teria que ser entregue o quanto antes, não eram alimentos estragados mais no “ponto”, retiramos às 15 da tarde, depois de despachados nossos assuntos profissionais. Os produtos já estavam lá, separados desde cedo. Em pleno verão, com a temperatura mais alta da década, exageros a parte, é que o tomate estava parecendo uma ameixa seca de tão quente.
Nosso primeiro desafio era colocar todo este mantimento dentro de um monza velho que só funcionava quando queria e com uma “personalidade indescritível”, não tínhamos caixas adequadas, nem tão pouco experiência com feiras, o máximo que já fiz , foi comprar banana maçã, com detalhe:
- Não entendi como minha mãe queria que eu comprasse banana e maçã com o dinheiro apenas para comprar um dos dois!
Achamos 300 quilos de alimentos muito pouco e resolvemos então pedir de Box em Box.
- Se eles dão até para os pedintes para esta causa nobre, que era a nossa, certamente darão mais ainda.
O Ceasa tem uns 10 mil metros quadrados, nos sem identificação, pedindo para outras pessoas, era a história mais esquisita para os feirantes do local.
Andamos a tarde toda. O irmão André tinha dinheiro apenas para comprar uma laranja e eu nem para isso.
Decidimos voltar para casa para fazer a distribuição, antes, porém, a sede matava-nos, fomos até a casa do irmão, sua mãe preparou um suco de laranja para nós, não sei se foi por causa de nosso cheiro, pois, o carro veio lotado de frutas, legumes, verduras e acho que tinha peixe ou algum animal no meio, pois o cheiro daquilo tudo junto era algo parecido com o fim da feira de domingo feita durante uma semana – dentro do meu carro - me senti uma verdadeira carriola de feira, ou melhor, uma sopa vencida, a irmã, pois mais açúcar no suco do que se utiliza para rapadura, não reclamando a solicitude da irmã é que ela mesma disse ter exagerado no açúcar e com o calor o sede aumentou, não bastasse isso ela ofereceu uma goiabada para ajudar a dar energia para crentes tão fervorosos.
Era tanto, chuchu, quiabo, mamão, coco verde, suor, calor, que até hoje me lembro do cheiro de sopa de mandioquinha com sapato de carteiro no fim da semana exalando do meu corpo.
Aprendemos muito com estas caminhadas, foram mais de 10 toneladas de alimentos abençoando e “bem soando” os diáconos e diaconisas da IPI Veloso durante o ano de 2005, tempos de vitória e conquista para nossa comunidade – valeu a experiência, cômica agora, mais na época – fiz jejum e oração por uma semana pois a fome se ia a cada lembrança do cheiro de sopa.
Se achar que exagerei pergunte ao irmão André que todas as quartas – feiras ia ao Ceasa buscar comida para uma quantidade inimaginável de pessoas do Jardim Veloso.
Espero não ter escandalizado os irmãos, é que o povo ganha mana e reclama, estamos tentando nos alegrar com as bênçãos que o senhor nos proporciona juntamente com as dificuldades que vem junto delas.
Um ósculo a todos e até uma próxima Diaconia Crônica & Crônica Diaconal.

9.3.07

o fim de Deus



Numa dessas madrugadas insones, estava eu a zapear algo assístivel na tv, quando parei hipnotizado num programa de caráter aparentemente “religioso”, tanto quanto duvidosos.
Demorei a entender que não se tratava de um programa de humor, embora parecesse um primo pobre do saudoso TV Pirata, tamanho o circo de horrores que por ali desfilava. Um pastor com lábia de camelô e perfil de gângster falava pelos cotovelos, enquanto iam ao ar depoimentos gravados de vários afortunados com bênçãos desta tal igreja, cujo nome não foi mencionado enquanto eu estive diante da tela.
O Pastor anunciava entusiasmado o “Congresso Empresarial com 318 pastores”, a acontecer num “templo” no brás, em São Paulo, enquanto os abençoados se sucediam dizendo: “eu tenho dois carros, uma moto...”; “agora eu tenho uma locadora,um apartamento “ etc, etc, etc... O Pastor dividia sua empolgação com seus colegas, e chamava então o pastor Nilsom, o Pastor Natanael, o pastor Jadson, para darem seu “testemunho de fé”, enquanto glorificava as vitórias das suas ovelhas, três das quais estavam presentes para darem mais depoimentos, estes ao vivo.
Então veio à hora da oração, o pastor levantou um copo de água, gesto repetido pelos outros presentes, conclamando a ovelha telespectadora a fazer o mesmo: “ Senhor, oramos por este que está na lama, por aquele empresário quebrado, por quem perdeu tudo, por quem não vendeu nada... Senhor oramos por aquele que não teve nenhuma vitória neste ano( e não era de corintianos que o pastor falava)... Repreendendo este espírito de perda Senhor,...”, e por aí foi. Confesso que foi a oração mais surreal que já ouvi na minha vida, a verdadeira “oração do crioulo doido”.
Mais estava por vir. Lá pelas tantas o mesmo pastor receberia dona Maria, infeliz empresária falida cujo patrimônio de 100 reais conquistados em trinta anos de trabalho ela perdera em apenas dois meses (sem explicar como):
- Dona Maria qual foi seu maior fundo de poço?
“ – Meu maior fundo de poço foi...”, e então Dona Maria desandou a destrinchar sua vida bancaria e contábil, expondo sua “dor” sem maior aparente comoção.
Detalhe: não eram pessoas miseráveis narrando desgraças e infortúnios que estavam ali, mas gente com algumas posses e empresários de classe média que contavam seus reveses na ânsia de reverter o “espírito de perda”(?). Pensei no seu Valdir!!! E continuei assistindo a tudo, abismado, esperando a nobre hora que os “fiéis” rogariam a Deus algo além de dinheiro.
“Que igreja é essa”, eu me perguntava, cuja “única benção é ganhar dinheiro, meus deus?”...
Adiante, quando eu julgava já ter visto tudo , ouvi o pastor convidar o povo para a “unção do dos automóveis”, sim, isso mesmo, onde haveria um ritual onde eles, os 318 pastores (de onde saem tantos pastores dos bueiros?), ungiriam os automóveis, acreditem se puder. Um homem fala: “... minha esposa veio de carro, eu vim de moto para a unção...” Sim, motocicletas também poderiam ser ungidas, bem como chaves de apartamentos, chaves de estabelecimentos comerciais e o diabo a quatro(ops!). Eu, que há semanas atrás pensando em eventos como louvorzão, num convite da UBAM (União Brasileira de Musicoterapeutas) a escrever sobre o tema com um e cristão. Cheguei a dizer no artigo que Deus passaria distante de eventos assim onde apenas a euforia dominasse. E por falar em musicoterapia lembrei-me de um adolescente (eu) tentando descobrir o porquê de algumas histerias espirituais e catarses em momentos de culto, fui os cultos da Assembléia de Deus, passei pelo terreiro de Defono de Oggum, estudei os ritos de Rosa Cruz e Ocultismo sempre duvidando na mesma medida em desejava crer no sentido da ação demoníaca nas pessoas.
Deduzi por minha própria conta e risco nessa época que “Deus” é o espírito criador, o espírito de tudo, das coisas e das emoções, do visível e do que não se vê, “Deus” é o mistério, o sublime. Logo ser “espiritual” (palavra desautorizada pelo uso leviano, anos a fio), deveria ser buscar “o espírito”, a essência das coisas, Deus, enfim.
Fazer pois um trabalho, estando completamente inteiro naquilo, seria o bastante torná-lo num ato espiritual. Assim como agir com o coração pleno de bondade e coragem também. Simples assim. Ou nem tanto. Por isso, talvez haja tão pouco “Deus” no mundo de hoje, porque há pouca inteireza, quase nenhuma integridade. “para ser grande sê inteiro”, já vaticinara o bardo.
Pela grande angular deste Cristianismo, Deus (assim maiúsculo) é um ilusionista, um ser com poderes mágicos que fez ressuscitar e subir aos céus como Cristopher Reeve de capa vermelha e uniforme e colante azul. É, meus caros, aos dos olhos destes cristãos Deus sempre foi um Spielberg, George Lucas... E, como se não bastasse agora vêm esses pastores com ares de bastardos, com avidez de vendedores de rodoviária transformar Deus (assim maiúsculo!) em O. G. Madino, Lair Ribeiro, num mago vulgar de auto-ajuda... Não, Deus não merecia destino tão tacanho!