24.8.09

Venda de espaço comercial para igrejas movimenta receita de três das cinco maiores redes de canal aberto no Brasil

As trocas de farpas entre a Record e a Rede Globo durante a programação das próprias emissoras esquentam os bastidores da televisão brasileira. Sob o argumento de que está sendo “vítima” de ataques dos meios de comunicação – em especial, da emissora da família Marinho – a Record divulgou na semana passada comunicado em que acusa a sua concorrente de “monopólio” , afirmando que a Globo pretende impedir a liberdade dos brasileiros na escolha de sua programação de TV.

Por meio do comunicado, a Record afirma que, no momento, a Igreja Universal adquire contratualmente, através de cessão de horário, durante as madrugadas, aproximadamente 180 horas de programação mensal na Rede Record, além de 150 horas mensais na Record Internacional e, ainda, 180 horas de programação na Rádio Record AM.

No último dia 10, a Justiça recebeu denúncia do Ministério Público e abriu ação criminal contra o bispo Edir Macedo (principal acionista da Record, e fundador da Igreja Universal do Reino de Deus) e mais nove integrantes da igreja. Eles são acusados de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Desde então, os meios de comunicação acompanham o caso. A Globo chegou a exibir imagens antigas em que Edir Macedo “ensinava” aos pastores como doutrinar e arrecadar dinheiro. Repórteres da emissora também participaram, em sigilo, dos cultos realizados pela igreja. Com câmeras escondidas, flagraram momentos em que os pastores perguntavam aos fiéis se eles estavam dispostos a doar carros e até apartamentos.

A Central Globo de Comunicação afirma, também por comunicado, que não cabe à emissora responder agressões “gratuitas”, e que, “como é do conhecimento geral, o autor das denúncias é o Ministério Público de São Paulo”.
Faturamento
A Record disputa o segundo lugar de audiência com o SBT e tem uma estratégia agressiva para concorrer com a Rede Globo, a líder entre as TVs abertas no Brasil e que exibe mais de 16 milhões de comerciais por ano, com uma receita estimada em R$ 7,6 bilhões com publicidade.
A investigação proposta pelo Ministério Público, em que quebrou os sigilos bancários e fiscal da Universal e levantou o patrimônio acumulado por seus membros com o dinheiro de seus fiéis, revelou que o volume financeiro da igreja entre 2001 e 2008 foi de R$ 8 bilhões. A Rádio e Televisão Record aparecem em relatório que traz a lista das 51 maiores beneficiárias dos pagamentos. Até o fechamento desta edição, a emissora não retornou à solicitação da reportagem sobre o faturamento mensal da emissora obtido com a venda de espaço comercial para a igreja.
Motivo de questionamento ou não, o fato é que, com exceção da Globo e SBT, dentro dos parâmetros da lei, três das cinco maiores TVs abertas brasileiras complementam boa parte de suas receitas com a venda de espaço comercial para igrejas. Fontes do mercado afirmam que só a Band, a quarta maior do País, fatura por mês cerca de R$ 20 milhões com a venda de espaço comercial para programas religiosos. A emissora não retornou à solicitação da reportagem sobre o valor do faturamento com venda do espaço para igrejas.
A RedeTV! também comercializa espaço para igrejas, como Igreja Mundial do Poder de Deus, a própria Universal e Igreja da Graça. “Existe uma estratégia de gerar programação, incluindo a religiosa, que interesse ao público. Obviamente isso gera um recurso comercial interessante”, disse Antonio Rosa Neto, superintendente comercial da RedeTV!. O executivo também afirmou que a emissora registrou 30% de faturamento publicitário no primeiro semestre do ano.
O SBT informou que “não há interesse [em abrir espaço comercial para igrejas], uma vez que a grade do SBT está completa e atendendo a todos os targets”. A emissora afirma que cresceu 11% em faturamento publicitário no primeiro semestre do ano, em comparação ao mesmo período de 2008.
Oferta
Outra informação que circula no mercado é a de que a Igreja Universal do Reino de Deus teria oferecido à TV Globo cerca de R$ 545,3 milhões para comprar horário para exibição de programas religiosos na emissora. A igreja também teria feito um pedido em 2007 para a compra de espaço na programação da TV Globo e do SBT. “É de conhecimento do mercado publicitário e dos profissionais que atuam no segmento de televisão aberta que a Rede Globo não pratica a comercialização ou locação, para terceiros, de espaços em sua grade de programação”, destaca a Central Globo de Comunicação.







Nenhum comentário:

Postar um comentário